segunda-feira, 3 de julho de 2017

APRENDENDO A NUTRIR COM O CORAÇÃO


Julho chega com o frio batendo à porta, chamando a tirar o casaco do armário, a fazer o fogão arder. Morango, tangerina, abóbora, mandioca, batata doce, enfeitam as barracas na feira.

Hum! Batata doce, festa de São João, cantoria no violão, amor no coração. 
Faz voltar no tempo. 
Tempo de criança, de trança no cabelo, de vestido colorido, de correr em volta do fogo.
Tempo de menina grande, de olhar travesso, de boca pintada, de beijar escondido atrás do muro.
Tempo de mulher, de pose assanhada, de cabelo ajeitado, de dançar até o sol raiar.
Tempo de mãe, de aliança no dedo, de filho no colo, de sorrir apaixonada pela vida e todas sua delícias.

Nada como um bocadinho desta batatinha para deixar os dias cheios de sabor, não é?

Você já comeu algo que te faz voltar no tempo? Que te leva para casa da vó, para tarde de domingo, para o piquenique no campo?

Acho que já está dando para perceber que tem algumas comidinhas que são carregadinhas de memórias afetivas. O alimento ganha nutrientes que não estão catalogados em tabelas nutricionais, mas sim no coração, ele fala de sentimento.

Como de repente uma simples batata doce pode vir com este tanto de história para contar?

Quando o inverno chegava lá em casa as reuniões na cozinha aumentavam um tanto, mães, tias, vizinhas e amigas se encontravam para prosear, na mesa a xícara de chá  vinha acompanhada por curau de milho, bolo de fubá, doce de batata doce.

Ali falavam da vida, trocavam receitas, abandonavam dores, suspiravam em risos sonoros e partiam renovadas prontas à mexer suas panelas, acrescentando sabores que vem dentro.

Adorava ver aquelas mulheres reunidas, e ainda criança para me juntar à elas, espiava da sala querendo ouvir suas histórias, aprender com seus dons. 

O jantar nesses dias se tornava inesquecível. A sopa parecia ganhar um gosto diferente e fazia querer esvaziar um novo prato, a salada vinha enfeitada chamando a provar a beleza de suas folhas, a alegria saltava dos pratos para a conversa à mesa, ao fechar os olhos os sonhos eram salpicados por estrelas.

Pois é, não existe nada como este tal tempero interno para enriquecer os pratos que chegam à mesa.

Cozinhar cativa a alma deixando marcas para uma vida toda.

Vamos cozinhar?

Beijo doce

Anah Locoselli


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