Outro dia em minha caixa de mensagens recebi uma inspiração para o caderno de cozinha, a imagem de um prato muito
apreciado pela família de uma leitora, chamado “Periquito”. Uma folha de couve envolvendo
a mistura de feijão com quirela de milho, parecido com um charutinho.
Achei
instigante a combinação e quis saber mais. Perguntando se este era um prato
típico do Paraná, ela me contou ser uma criação de seus bisavós, que em tempos
de escassez, levavam à mesa somente os alimentos colhidos em seu sítio.
Com a intenção
de garantir o sustento da casa mesmo diante da colheita reduzida nasceram os “Periquitos”.
A escassez foi embora e o prato passou a fazer parte das receitas de família, seguindo
de geração em geração, perpetuando a criação.
Agradecida pela
inspiração apreciava em meu silêncio o sabor existente naquele alimento, era
como se pudesse sentir a presença daquela bisavó e sua sabedoria.
Poderia ela ter
escolhido nome melhor? Periquitos falam de alegria, de boa sorte. Seu olhar
criativo lhe permitia ver além e no que parecia ser escassez reconheceu a
abundância dos frutos da terra abençoando aquele prato.
Sua história me
convidou a ver como eu agia diante da geladeira e suas prateleiras lotadas. Eu
me alegrava ou me lamentava querendo justo o que ali não tinha? Eu nutria o
sentimento de abundância ou escassez? Será que eu dava o devido valor ao alimento
reconhecendo toda sua trajetória para chegar à minha mesa ou simplesmente comia
inconscientemente?
A cada pergunta
feita uma resposta surgia, a cada resposta era presenteada com a chance de
escolher, com a possibilidade de transformar.
Conseguiria eu fazer
diferente?
Naquela manhã prepararia
os “Periquitos” e com eles abençoaria minha mesa. Peguei o pote de feijão no
armário sobre a pia, derramando os grãos na bancada não tinha olhos para contar
sua finitude. Pela primeira vez pude reverenciar a fartura que traduziam.
Enquanto meus
dedos selecionavam, os pensamentos deslizavam. Eu sentia o cheiro da terra, as mãos
calejadas, o sol penetrante, a chuva caindo, e a cada grão jogado dentro da
panela derramava sorrisos de gratidão.
O feijão chiava
no fogão ao mesmo tempo em que escaldando folhas de couve, corria os olhos por
suas nervuras, sorvendo a seiva que ali fluía. Eu crescia, eu agradecia.
Sobre cada
folha distribui o creme preparado com o feijão. Os dedos percorriam a pele esverdeada dando forma
aos charutos. Apreciando o toque e o aroma desprendido, sentia o pulso do
coração.
Os “Periquitos”
vieram para ficar.
Gratidão Tati,
à você e toda sua família por compartilhar tanto saber, tanto amor.
Periquitos com
purê de abóbora, manga e raspas de limão
Periquitos
Ingredientes
1 xícara de
feijão cozido
1/4 de pimentão vermelho em cubinhos
½ maço
de salsinha
1
colher de sopa de farinha de mandioca
1
colher de sopa de azeite
½
colher de chá de cominho em pó
1
colher de sopa de pimenta biquinho picada
Sal
4
folhas de couve
Modo
de fazer
Leve
uma frigideira grande ao fogo com água.
Na
água fervente coloque uma folha de couve.
Aguarde
por dois minutos, tempo necessário para o caule central amolecer.
Retire
do fogo e reserve.
Repita
com as outras folhas.
Leve
uma frigideira ao fogo com o azeite, o pimentão, a pimenta biquinho e o
cominho.
Salteie
por um minuto.
Junte
o feijão com 1/4 de
xícara de água.
Mexa amassando
os grãos com as costas da colher.
Coloque
sal e a farinha de mandioca.
Retire
do fogo e acrescente a salsinha picada.
Montagem
Estenda
uma folha de couve sobre uma tábua, com as nervuras voltadas para a tábua.
No
seu centro inferior da folha coloque duas colheres de sopa da mistura de
feijão.
Dobre
as laterais da folha para dentro, cobrindo o recheio.
Enrole
a folha de baixo para cima formando o charuto.
Antes de servir aqueça no vapor.
Purê
de abóbora com manga
Ingredientes
400g
de abóbora
1
manga
2
colheres de sopa de azeite
Sal
Raspas
de um limão
Modo
de fazer
Descasque
a abóbora e corte em cubos.
Leve
uma panela ao fogo com a abóbora, cubra com água e deixe cozinhar até ficar
macia, cerca de 20 minutos.
Descasque
e corte a manga em pedaços.
Leve
ao liquidificador a abóbora cozida, sem a água, e a manga, até obter uma
mistura cremosa.
Junte
o azeite em fio enquanto continua a liquidificar.
Leve
ao fogo uma panela com o purê, coloque sal e deixe reduzir.
Sirva
com raspas de limão acompanhando o periquito.
Convide que a gratidão nutrir sua mesa.
Se você tem uma receita de família escreve pra mim, me inspira!
Beijo doce
Anah Locoselli
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