segunda-feira, 28 de novembro de 2016

RECEITAS DE FAMÍLIA - POLENTA DOCE BANHADA POR REDUÇÃO DE LEITE DE COCO



Chegou mais uma receita de família, esta vem do sertão nordestino, onde a mãe de uma leitora ainda reside.

Ela me contou que ali nasceu e cresceu. Sua casa tinha paredes de pau a pique rodeando o fogão, onde a lenha queimava aquecendo as panelas e junto com o lampião iluminava a noite. O alimento vinha direto da terra, o que era plantado contemplava a mesa.

Envolvidos pela força e poder da vida, teciam seu roçado em pleno agreste nordestino. Cultivavam sementes de fé em cada grão enterrado, confiantes de que iriam florescer e a cada dia zelavam pelo milho semeado.

Os caules cresciam, espigas despontavam, sorrisos celebravam a colheita que estava por vir, enquanto a gratidão se espalhava nas panelas da cozinha.

A colheita acontecia e o milho era posto para secar, para então ser triturado e peneirado. A partir da farinha mais fina um cuscuz saia do fogão, alimentando muitas bocas com amor pela terra que tudo dá.

Ela migrou para São Paulo e trouxe em sua bagagem a receita de família, o sabor de infância, o cheiro da lenha, a luz das estrelas, a fala arretada, a fé, a gratidão.

Inspirada em sua história, querendo muito provar um tantinho daquela fé e gratidão pelo viver, criei um novo prato em homenagem a esta e tantas outras famílias que cultivam a vida sob qualquer condição.

Diante do panorama transgênico que transformou a cultura de milho optei pelos orgânicos e somente encontrei farinha de milho bem fininha, assim o prato que nasceu foi uma polenta doce banhada por redução de leite de coco.

Agradeço a esta família por nutrir a fé na vida, por me estimular a acreditar que um mundo de amor é possível, basta plantar e cuidar com a certeza de que no tempo certo vai florescer.

Gratidão Vani



Polenta doce banhada por redução de leite de coco

Ingredientes
5 colheres de sopa de açúcar de coco
2/3 de xícara de água
1/2 xícara de coco fresco ralado
1/2 xícara de farinha de milho
1 xícara de leite de coco
1 colher de chá de canela

Modo de fazer

Leve uma panela, ao fogo baixo, com 3 colheres de sopa de água e o açúcar até obter um caramelo.
Junte o coco ralado.
Dissolva a farinha de milho no leite de coco e leve à panela com o caramelo de coco.
Acrescente a água e a canela.
Permaneça mexendo por 20 minutos.
Retire do fogo e preencha um aro de modelar.
Retire o aro e banhe com a redução de leite de coco

Redução de leite de coco

Ingredientes
1 xícara de leite de coco
3 estrelas de anis estrelado
1 colher de chá de erva doce

Modo de fazer
Leve uma panela ao fogo baixo com o leite de coco, o anis e a erva doce.
Aguarde reduzir, até formar uma calda. Cerca de 5 minutos.
Banhe a polenta com esta calda e distribua fitas de coco para decorar.

Utilizei leite de coco caseiro para fazer esta receita. Você encontra aqui como fazer leite de coco.

Leite de coco

Ingedientes
300g de coco fresco sem a casca dura
500ml de água quente

Modo de fazer
Corte o coco em pedaços e deixe de molho na água quente por 20 minutos.
Liquidifique e coe em uma peneira fina, eu uso a "panela furada". Que você pode encontrar no site aromalife.com.br/categoria/doce-limao/, ou na feira orgânica da Água Branca, ou do Ibirapuera na barraca de suco verde.




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

TRANFORMANDO SONHO EM REALIDADE - IOGURTE DE COCO ENVOLTO EM CALDA DE MANGA COM MARACUJÁ E NUANCES DE CARDAMOMO




Ainda fico sem acreditar que apenas há algumas semanas eu nem pensava em abrir um coco, muito menos me passava pela cabeça que ele me ajudaria a construir um grande sonho.

Quando optei por ser vegana abrir mão do iogurte não me causou nenhuma crise, gostava de comer de vez em quando, mas não era uma grande paixão, podia muito bem passar sem.  

A cozinha não tinha me chamado a olhar para ele, até que um pedido por um café da manhã completo deu as caras e o tal iogurte foi solicitado. Após muitas marteladas ao léo ele se fez, enchendo minha boca d'água, conquistando um lugar em minha mesa.

Completamente vidrada com a leveza de seu sabor passei a dar asas ao sonho que me acordou ao alvorecer. 

Lá estava eu sentada a apreciar colheradas da taça de vidro onde repousava o creme de coco com veios amarelo ouro desenhados em sua brancura. Em minha língua pedaços de frutas se dissolviam em sorrisos de prazer.

Amanheceu e na boca sentia o tom cítrico, levemente adocicado e um tanto refrescante. Eu queria mais era ficar ali largada na cama curtindo aquele sabor, perpetuando o instante, mas um novo dia chamava a desfrutá-lo.

Um tanto contrariada escovava os dentes dissolvendo as sensações quando surgiu a determinação de transformar meu sonho em realidade e lá fui eu para cozinha.

Da fruteira para panela vieram o maracujá e a manga, dos vidrinhos de tempero saltou o cardamomo, um tantinho de água, um pouquinho de fogo e lá estava a calda brilhando.

Na geladeira encontrei o iogurte, no armário escolhi a taça. Comecei a desenhá-la, andar por andar, sem pressa eu apreciava as cores se mesclando, o perfume amarelado, o sonho ganhando forma, o coração salivando.

As colheres chegavam à boca, os olhos refletiam o sabor vivido e diante do temor do fim surgia a certeza de um novo sonho.




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

COZINHAR, MEDITAR E AMAR - UM RETIRO NA COZINHA - Vídeo

Você merece este presente! Venha participar deste retiro e descubra o verdadeiro sabor de se nutrir com amor.


Venha conquistar a autonomia para preparar seu próprio alimento, traga seu toque especial, nutra o amor por você.

Receitas veganas e sem glúten estarão inspirando a cozinha criativa e saudável.

Vamos fazer:
Pão de grão de bico
Quiche de abobrinha com shitake
Biscoitinho de inhame
Pãozinho de inhame
Pesto de manjericão
Tortinha de banana
Smoothie de frutas
Mandioqueijo

Venha provar o sabor do saudável, surpreenda-se!

Data - 09 à 11 de dezembro
Local - Nazaré Uniluz - Nazaré Paulista

Faça sua inscrição - (11) 4597-7103 (fixo) / (11) 99770-9930 (Vivo)
                                           secretaria@nazareuniluz.org.br

Valor - R$ 878,00 (vivência, apostila com receitas, degustação, hospedagem em quarto individual, alimentação completa)

LASSI DE MANGA COM SUMO DE TANGERINA E ESPECIARIAS



Pense em criança quando ganha brinquedo novo, pois esta sou eu com minha nova descoberta, o iogurte de coco.

Nesta manhã estava me divertindo com o tal iogurte, me aventurando à misturas inusitadas, querendo descobrir os sabores que pode me ajudar a conquistar, provando, aprovando, rejeitando. Uma grande maratona gustativa e criativa se estabelecia diante do mundo de possibilidades.

Na fruteira uma manga se insinuava prometendo um revirar dos olhos e logo foi adicionada ao creme de coco, o sabor ficou bom, mas faltava algo, eu queria mais. A visão atenta fez as tangerinas saltarem à vista e juntei seu sumo fazendo o coração bater mais forte, mas eu ainda queria mais.

Acolhendo minhas vontades segui para o armário de especiarias. Os olhos passeavam entre uma infinitude de vidrinhos enquanto eu retirava tampas e inspirava o aroma recolhido em seu interior. 

Cada pote um cheiro, um sabor, um poder, mas qual traria o toque de mestre para aquela alquimia?

Completamente imersa nas sensações despertas fui fazendo minhas escolhas: anis estrelado, funcho, canela, cravo da índia e pimenta Sichuan. No almofariz transformava em pó e ao mesmo tempo me deleitava com o aroma que se fazia.

Eu estava vibrando, já sentindo ter alcançado o sabor da paixão, quando verti um tanto da mistura líquida no copo e salpiquei com o pó de cheiro, mas eu queria mais.

Então peguei um oráculo que uso em minha cozinha e retirei uma carta para abençoar a bebida que acabava de nascer. Nesse instante compreendi o quão valioso é dar ouvido aos meus pedidos, a não sossegar enquanto o sorriso não aparecer, a dizer sim a mim.

A carta que batizou o Lassi de manga com sumo de tangerina e especiarias, foi AMOR, e diz que quando o amor toca a alma, cura, transforma, guia, protege e ilumina.

Agora eu me sentia plena, com o Lassi que nasceu para nutrir a mim, a você e quem mais quiser sentir o sabor do amor.


domingo, 20 de novembro de 2016

PÃO DE LENTILHA COM COCO




Apaixonada pelos grãos não consegui deixar de lado as lentilhas do armário.Os pequenos discos chamavam meus olhos a sorrir enquanto as mãos brincavam com os grãos escorrendo entre os dedos.

Um punhado foi a panela junto com um buquê de ervas da janela, perfumando a cozinha, arrancando suspiros do coração.

Seriam transformadas em pão junto com um tanto da polpa branquinha do coco recém aberto.

Mistura daqui, mexe dali, para, respira e leva pro forno.

Tempo de crescer, 
Tempo de assar, 
Tempo de agradecer.

Nasce o pão de lentilha com coco, vegan, sem glúten, sem espessantes, sem goma xantana, naturalmente natural.

O sabor? 

As palavras não sabem dizer, somente rogam por mais.

Logo mais você poderá provar esta mais outras criações.

Beijo doce

Anah

terça-feira, 15 de novembro de 2016

UM BOLO DE CHOCOLATE PRA VOCÊ


A chuva caia lá fora enquanto eu mergulhava na escuta do silêncio, inspirando e expirando me apropriava um tantinho mais do que sou. Nesse passeio interno fui sentindo o sabor do sim e logo fui chamada à cozinha.

Os pingos d'água ecoando na vidraça pediam por conforto, por acolhimento e eu na frente do fogão sem nada entender. De olhos abertos e pensamento atento quis saber o que fazer, foi então que surgiu o pedido por um bolo de chocolate.  

Bem desconfiada fiquei a matutar: “Eu não como chocolate há um tempão, já percebi que fico um tanto desbaratinada com uns bocados seus. Que história é essa de bolo de chocolate?” Ai uma voz se pôs a ecoar nos meus ouvidos: “Acolhimento, menina, acolhimento.”

Sem muito entender resolvi atender ao pedido, contudo tinha alguns poréns dos quais não via como abrir mão. O bolo não poderia ter farinha de trigo, ovos, fermento químico, manteiga e açúcar só se fosse de coco. Foi então percebi precisar da ajuda de uma grande alquimista para realizar o tal desejo.

Fui chamando pelos dons: Mãos de fada, escuta do coração, olhos de águia, nariz de princesa, voz do sábio, e muita fé. Confia que vai dar tudo certo!

Carla Bruni cantava Dolce França enquanto eu bailava com a colher misturando os ingredientes na vasilha, esparramando nuvens de cacau, sopros de alegria, notas de puro amor. O olhar atento observava a textura da massa fazendo os ajustes para deixá-la no ponto ideal, ao mesmo tempo que os lábios se moviam em busca do sabor supremo.

O sorriso surgiu em tom de aprovação e o bolo foi pro forno.

Um aroma baunilhado desprendia do fogão embalando o lavar a louça, e eu me perguntava pra quem era o bolo de chocolate?

Diversos rostinhos começaram a surgir com os olhos brilhando, saltitando e agradecendo.


Neste instante percebi que fiz este bolo pra você!!!



Se você conhece alguém que gosta de comer bem indica o blog, eu agradeço!

Beijo doce
Anah Locoselli




quinta-feira, 10 de novembro de 2016

DESPERTANDO O AMOR - BERINJELAS REGADAS COM AZEITE DE ERVAS


Há algum tempo era muito comum acordar sem nem ao menos dar bom dia a mim mesma. O toque do despertar buzinava na orelha e lá estava eu quase que saltando da cama antes mesmo de abrir os olhos, seguindo numa correria atrás de dar conta de meus compromissos.

O dia passava na mesma pressa que eu acordava, semana após semana sumia num piscar de olhos, e sem ao menos reparar mais um ano se acabava, e eu continuava a correr atrás do que vai ser.

Entre uma brecha e outra comia o que estivesse ao alcance, engolindo colheradas ao léu não me dava chance de sentir o gosto. Ligada no piloto automático, sem perceber, fui abrindo mão do apreciar, do degustar, do deleitar.

Entrar na cozinha era um desafio e tanto, eu não tinha tempo para perder. Muitas e muitas vezes debruçada em um pote de pipocas alimentava minhas noites apaziguando a vontade de comer.

Até que numa noite de inverno, escondida no meio das cobertas meu corpo pedia por  comida quentinha enquanto eu insistia com os grãos estourados. Sem mais suportar ser ignorado, precipitou uma grande ânsia ao mesmo tempo que uma voz se pôs a cutucar meus ouvidos: "Ei você ai, vai continuar sem olhar pra si, sem se cuidar?" "Vai deixar a vida passar pra depois se lamentar?" "Será que não merece um tempinho pra você?"

Enfiei a cabeça embaixo das almofadas querendo sufocar aquela fala, mas o desconforto interno era tamanho que uma vontade de vomitar me tirou dali. Eu estava sendo levada a agir, querendo ou não. Iria eu insistir em pipocar?

A tal voz se colocou toda imponente: "Pode parar, está na hora de levantar e cozinhar."

Sem muito o que fazer resolvi seguir para cozinha. O que faria eu para sossegar aquela voz, para acalentar o meu Ser?

Em meu silêncio fui percebendo que estava em busca de sabor, queria uma coisa bem gostosa, cheinha de temperos e fácil de fazer.

Peguei um vidro e fui colocando colheradas de salsinha, orégano, grãos de mostarda, sementes de coentro, uma pitada de pimenta, folhas de louro e cobri tudo com um tanto de azeite.

O perfume dos temperos imersos no óleo de azeitonas foi despertando um prazer até então desconhecido. Naquele instante percebi o quão saboroso era cuidar de mim.

A alegria se fez, a ânsia se foi, a cozinha mais uma vez se revelou um lugar para curar minha dor.

Eu sentia o aroma desprendido, e pedia por mais, a boca salivava em busca de saber o gosto. Atenta aos meus desejos parti uma berinjela ao meio e pincelei com várias camadas daquele azeite, salpiquei um tanto de sal e levei ao forno.

Na cozinha me senti abraçada, amada. Sentada à mesa apreciava os nacos de berinjela regados com azeite, gemendo a cada bocado ingerido, dizendo sim eu mereço o meu amor, sim eu me dou o meu amor. 





Ajude a trazer bem estar para seus amigos e familiares, indique o blog e semeie os benefícios de uma alimentação consciente, de um mundo de amor.

Beijo doce
Anah Locoselli








sexta-feira, 4 de novembro de 2016

COMO TIRAR A CASCA DO COCO


Gosto muito de usar coco em minhas receitas, seja ralado, em fitas, em forma de leite, farinha e por ai afora. De sabor adocicado confere um toque especial aos pratos, porém sua casca se mostrava um verdadeiro desafio.

Sem muito saber como lidar com ela optava por comprá-lo descascado, chegando a pagar quase cinco vezes mais que o preço com casca. Inventava mil desculpas para não ter que lidar com ela, desfiando justificativas para aquele gasto extra.

Até que um aluno ao qual dou aulas de culinária me explicou como retirar sua carapaça, enviou um vídeo com o passo a passo, e a cada nova aula me perguntava se tinha conseguido.

Eu nem cogitei em olhar o vídeo, muito menos abrir o coco, e aula após aula respondia preferir o fruto descascado, bem mais prático.

Porém ele insistia, mal chegava em sua casa e lá vinha a tal pergunta: “E ai conseguiu?”. Eu respirava fundo, sorria contrariada e pensava: “Que cara chato, será que não dá pra me deixar em paz?”, “Larga do meu pé jacaré e vamos cozinhar!”.

Porque estaria eu tão irritada? Porque não tentava abrir o coco? Essas perguntinhas quando surgem me fazem ver tanta coisa que fiquei até arrepiada só de pensar onde iriam me levar.

Mesmo assim pulei de cabeça pra saber o que aconteceria. Neste instante me vi com uma mão na cintura, um dedo apontado, batendo o pé e dizendo: “Você não consegue.”

Fala sério! Vou acreditar nesse papo ou encarar o desafio? Enchi o peito, peguei a bolsa e fui pro mercado. Comprei dois cocos, não iria abrir apenas um, mas sim dois!

Fui lembrando das dicas de meu aluno, lavei os cocos e os levei ao freezer. Depois de umas duas horas retirei um coco e com uma chave de fenda e um martelo fiz dois furos em seus olhinhos. Deixei virado sobre um copo, para que sua água escorresse enquanto descongelava, e aguardei.

Eu estava tranquila, toda confiante, até que a tal figurinha resolve aparecer de novo, só que agora era menorzinha, mas ainda insistindo: “Você não consegue ir além disso.”

Já tinha chegado até ali e não conseguiria ir além? Com um sopro vindo das entranhas dissolvi o fantasminha. Eu vou conseguir!

Observando o copo cheio de água, peguei o martelo com uma mão e na outra segurei o coco. A cada martelada dizia: ”Sim, eu posso”, “Sim, eu consigo.”, “Sim, eu faço.”. Sim, sim, sim.

Com um sim atrás do outro a casca foi rompendo, se desprendendo da polpa, e eu martelando sorria, Sim. A essência do fruto estava em minhas mãos e liberta de sua carapaça me chamava a apreciar o sabor da conquista, da liberdade.

Eu bebia sua água absorvendo o néctar do sucesso, mordiscava a polpa adocicada com notas de poder e era preenchida com uma única verdade:

Sim, eu tudo posso naquele que me fortalece!!!

Repleta por essa força que me preenche eu agradeço a este aluno que se revelou um mestre em meu caminho.


Beijo doce

Anah Locoselli

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

RECEITA DE FAMÍLIA - PERIQUITOS



Outro dia em minha caixa de mensagens recebi uma inspiração para o caderno de cozinha, a imagem de um prato muito apreciado pela família de uma leitora, chamado “Periquito”. Uma folha de couve envolvendo a mistura de feijão com quirela de milho, parecido com um charutinho.

Achei instigante a combinação e quis saber mais. Perguntando se este era um prato típico do Paraná, ela me contou ser uma criação de seus bisavós, que em tempos de escassez, levavam à mesa somente os alimentos colhidos em seu sítio.

Com a intenção de garantir o sustento da casa mesmo diante da colheita reduzida nasceram os “Periquitos”. A escassez foi embora e o prato passou a fazer parte das receitas de família, seguindo de geração em geração, perpetuando a criação.

Agradecida pela inspiração apreciava em meu silêncio o sabor existente naquele alimento, era como se pudesse sentir a presença daquela bisavó e sua sabedoria.

Poderia ela ter escolhido nome melhor? Periquitos falam de alegria, de boa sorte. Seu olhar criativo lhe permitia ver além e no que parecia ser escassez reconheceu a abundância dos frutos da terra abençoando aquele prato.

Sua história me convidou a ver como eu agia diante da geladeira e suas prateleiras lotadas. Eu me alegrava ou me lamentava querendo justo o que ali não tinha? Eu nutria o sentimento de abundância ou escassez? Será que eu dava o devido valor ao alimento reconhecendo toda sua trajetória para chegar à minha mesa ou simplesmente comia inconscientemente?

A cada pergunta feita uma resposta surgia, a cada resposta era presenteada com a chance de escolher, com a possibilidade de transformar.

Conseguiria eu fazer diferente?

Naquela manhã prepararia os “Periquitos” e com eles abençoaria minha mesa. Peguei o pote de feijão no armário sobre a pia, derramando os grãos na bancada não tinha olhos para contar sua finitude. Pela primeira vez pude reverenciar a fartura que traduziam.

Enquanto meus dedos selecionavam, os pensamentos deslizavam.  Eu sentia o cheiro da terra, as mãos calejadas, o sol penetrante, a chuva caindo, e a cada grão jogado dentro da panela derramava sorrisos de gratidão.

O feijão chiava no fogão ao mesmo tempo em que escaldando folhas de couve, corria os olhos por suas nervuras, sorvendo a seiva que ali fluía. Eu crescia, eu agradecia.

Sobre cada folha distribui o creme preparado com o feijão. Os dedos percorriam a pele esverdeada dando forma aos charutos. Apreciando o toque e o aroma desprendido, sentia o pulso do coração.

Os “Periquitos” vieram para ficar.

Gratidão Tati, à você e toda sua família por compartilhar tanto saber, tanto amor.

Periquitos com purê de abóbora, manga e raspas de limão

Periquitos
Ingredientes
1 xícara de feijão cozido
1/4 de pimentão vermelho em cubinhos
½ maço de salsinha
1 colher de sopa de farinha de mandioca
1 colher de sopa de azeite
½ colher de chá de cominho em pó
1 colher de sopa de pimenta biquinho picada
Sal
4 folhas de couve

Modo de fazer
Leve uma frigideira grande ao fogo com água.
Na água fervente coloque uma folha de couve.
Aguarde por dois minutos, tempo necessário para o caule central amolecer.
Retire do fogo e reserve.
Repita com as outras folhas.
Leve uma frigideira ao fogo com o azeite, o pimentão, a pimenta biquinho e o cominho.
Salteie por um minuto.
Junte o feijão com 1/4 de xícara de água.
Mexa amassando os grãos com as costas da colher.
Coloque sal e a farinha de mandioca.
Retire do fogo e acrescente a salsinha picada.

Montagem

Estenda uma folha de couve sobre uma tábua, com as nervuras voltadas para a tábua.


No seu centro inferior da folha coloque duas colheres de sopa da mistura de feijão.


Dobre as laterais da folha para dentro, cobrindo o recheio.


Enrole a folha de baixo para cima formando o charuto.
Antes de servir aqueça no vapor.

Purê de abóbora com manga
Ingredientes
400g de abóbora
1 manga
2 colheres de sopa de azeite
Sal
Raspas de um limão

Modo de fazer
Descasque a abóbora e corte em cubos.
Leve uma panela ao fogo com a abóbora, cubra com água e deixe cozinhar até ficar macia, cerca de 20 minutos.
Descasque e corte a manga em pedaços.
Leve ao liquidificador a abóbora cozida, sem a água, e a manga, até obter uma mistura cremosa.
Junte o azeite em fio enquanto continua a liquidificar.
Leve ao fogo uma panela com o purê, coloque sal e deixe reduzir.
Sirva com raspas de limão acompanhando o periquito. 
Convide que a gratidão nutrir sua mesa.

Se você tem uma receita de família escreve pra mim, me inspira!

Beijo doce

Anah Locoselli

terça-feira, 1 de novembro de 2016

NA COZINHA, AQUI, AGORA - CHÁ DE TUDO


Quando comecei a ver a pilha de coisa boa, que tinha comigo, fiquei um tanto emplumada. Completamente apaixonada por tudo que sou, passei a não querer jogar fora nadica de nada.

Eu reconhecia minha beleza em cada parte e o tal do olhar amoroso começou a florear o que andava fora dos conformes. Não estava disposta a rejeitar mais nem um tantinho.

Toda arrepiada pensando em quanta coisa havia dispensado ao longo de quase cinquenta anos, já me preparando para correr atrás do prejuízo, lembrei daquela história de que o grande negócio é o aqui, agora. Uai, como assim aqui agora, será que eu vivia em outro tempo?

Nunca tinha entendido esse papo direito, achava coisa de filósofo viajante, mas nessa hora aquilo caiu feito uma luva.

Estava eu lá querendo catar os pedacinhos deixados pra trás quando uma cena me vem à cabeça. Eu me vi a revirar o lixo da cozinha querendo reaproveitar o que encontrasse. Nossa que meleca, meter as mãos ali era pra lá de nojento e nada apetecível pensar em dar um trato e levar ao prato.

Pois então, iria eu em busca do que já foi? Ou já podia dar uma sacudidela e seguir com o que é? Querendo optar por deixar ir e aproveitar tudo que sou, lancei mão do meu super avental e pra cozinha fui.

Pense num ser rebolando para dar jeito no seu propósito, pois este era eu lá nas bocas do fogão. Naquela manhã o abacaxi serviu a mesa e diante das cascas empilhadas sobre a pia meu olhar se apaixonou por seus desenhos angulados saboreando o cheiro adocicado que ainda desprendiam.

E agora, o que faria eu, comeria a casca do abacaxi? Não, isso já era demais pra mim, mas um bom chá poderia ser a solução. Com o coração comandando as caçarolas, chamei o Tico e o Teco, passando a aproveitar ao máximo os alimentos que preenchiam a geladeira.

Na panela cabia: Casca de cenoura, caroço de manga, talos de salsinha, folhas de salsão e por ai afora. No que se transformavam? Chás, caldos, sopas e o que mais desse na telha. Pra dizer se é bom, só experimentando!

Vale a pena provar esse chazinho para descobrir como pode ser incrível aproveitar cada bocadinho seu. Apenas um lembrete, para usar cascas em caldos, sucos e chás é melhor que sejam de alimentos orgânicos.


Chá de tudo

Ingredientes
Casca de um abacaxi
Casca de uma manga
Um caroço de manga
2 colheres de sopa de hibisco
1 pau de canela
1,5 litros de água

Modo de fazer
Coloque as cascas bem lavadinhas em uma panela.
Junte o caroço de manga, as flores secas de hibisco, o pau de canela e metade da água.
Mantenha no fogo por dez minutos após levantar fervura.
Coe e junte o restante da água.
Leve para gelar.

Sinta o prazer de apreciar tudo que você é!

Você gosta dos meus textos? Conta pra mim. Indica o blog e me ajuda a construir um mundo de amor.

Beijo doce
Anah Locoselli