quinta-feira, 10 de novembro de 2016

DESPERTANDO O AMOR - BERINJELAS REGADAS COM AZEITE DE ERVAS


Há algum tempo era muito comum acordar sem nem ao menos dar bom dia a mim mesma. O toque do despertar buzinava na orelha e lá estava eu quase que saltando da cama antes mesmo de abrir os olhos, seguindo numa correria atrás de dar conta de meus compromissos.

O dia passava na mesma pressa que eu acordava, semana após semana sumia num piscar de olhos, e sem ao menos reparar mais um ano se acabava, e eu continuava a correr atrás do que vai ser.

Entre uma brecha e outra comia o que estivesse ao alcance, engolindo colheradas ao léu não me dava chance de sentir o gosto. Ligada no piloto automático, sem perceber, fui abrindo mão do apreciar, do degustar, do deleitar.

Entrar na cozinha era um desafio e tanto, eu não tinha tempo para perder. Muitas e muitas vezes debruçada em um pote de pipocas alimentava minhas noites apaziguando a vontade de comer.

Até que numa noite de inverno, escondida no meio das cobertas meu corpo pedia por  comida quentinha enquanto eu insistia com os grãos estourados. Sem mais suportar ser ignorado, precipitou uma grande ânsia ao mesmo tempo que uma voz se pôs a cutucar meus ouvidos: "Ei você ai, vai continuar sem olhar pra si, sem se cuidar?" "Vai deixar a vida passar pra depois se lamentar?" "Será que não merece um tempinho pra você?"

Enfiei a cabeça embaixo das almofadas querendo sufocar aquela fala, mas o desconforto interno era tamanho que uma vontade de vomitar me tirou dali. Eu estava sendo levada a agir, querendo ou não. Iria eu insistir em pipocar?

A tal voz se colocou toda imponente: "Pode parar, está na hora de levantar e cozinhar."

Sem muito o que fazer resolvi seguir para cozinha. O que faria eu para sossegar aquela voz, para acalentar o meu Ser?

Em meu silêncio fui percebendo que estava em busca de sabor, queria uma coisa bem gostosa, cheinha de temperos e fácil de fazer.

Peguei um vidro e fui colocando colheradas de salsinha, orégano, grãos de mostarda, sementes de coentro, uma pitada de pimenta, folhas de louro e cobri tudo com um tanto de azeite.

O perfume dos temperos imersos no óleo de azeitonas foi despertando um prazer até então desconhecido. Naquele instante percebi o quão saboroso era cuidar de mim.

A alegria se fez, a ânsia se foi, a cozinha mais uma vez se revelou um lugar para curar minha dor.

Eu sentia o aroma desprendido, e pedia por mais, a boca salivava em busca de saber o gosto. Atenta aos meus desejos parti uma berinjela ao meio e pincelei com várias camadas daquele azeite, salpiquei um tanto de sal e levei ao forno.

Na cozinha me senti abraçada, amada. Sentada à mesa apreciava os nacos de berinjela regados com azeite, gemendo a cada bocado ingerido, dizendo sim eu mereço o meu amor, sim eu me dou o meu amor. 





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Beijo doce
Anah Locoselli








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